Chamadas a imitar a Sagrada Família em Nazaré, somos herdeiras de uma Espiritualidade
A nossa Espiritualidade, dimensão central do carisma de Rita Amada de Jesus, da qual comungam irmãs e leigos, é a imitação da Sagrada Família em Nazaré. Contemplamo-La e imitámo-La em Nazaré, porque é lá que esta Família está particularmente em Missão.
Para a nossa fundadora, Jesus, Maria e José são a trindade que, na terra, nos oferece o perfeito exemplo no fiel cumprimento da Santa Vontade de Deus. Na experiência mística, eles são o modelo acabado para adentrarmos espiritualmente no Mistério de Comunhão da Divina Trindade. Eles são também modelo de vida, de santidade, de família humana e de educadores. Dessa forma, Rita Amada de Jesus sela o Instituto com o seu coração, com a sua vida e com a sua forma de viver o Evangelho de Cristo, tomando como modelos Jesus, Maria e José.
Contemplando a Sagrada Família deparamo-nos com as figuras humanas e leigas de Maria e de José, nos sagrados desempenhos da maternidade e da paternidade. Todos nós, irmãs e leigos, no exercício de nossa Missão educativa e evangelizadora, somos pais e mães espirituais daqueles que atingimos com a nossa ação apostólica.
MARIA, ama a todos e à Sua Família, de todo o seu coração e com toda a sua alma. É amor sem medida, é amor de mãe. Ela é a Mãe do Amor. Ensinou Jesus a andar, a falar, a comer, a ler, a rezar… Maria não faz outra coisa senão amar Aquele que veio de Deus para nos ensinar a amar.
JOSÉ é quem as Escrituras definem como o “homem justo. Ele é pai amoroso, de coração bom, atencioso e amigo, sempre pronto a amar e a servir a Javé e ao seu próximo. Dedicou sua vida para cuidar, zelar, proteger as vidas de Jesus e de Maria. Foi um verdadeiro ‘chefe de família’, que vive responsavelmente para os seus, e luta pelo pão de cada dia. Com ele, o Menino e o Jovem Jesus aprende a frequentar a sinagoga, a trabalhar, a pescar, a se interessar pelos problemas de sua comunidade.
A Sagrada Família nos oferece o exemplo do silêncio, do recolhimento e da união conjugal. Ao olharmos para Jesus, Maria e José contemplamos o amor-serviço em ação apostólica e a família como comunidade de amor, por meio do sagrado vínculo do matrimônio, que nasce “do ato humano pelo qual os esposos se entregam e se recebem mutuamente, nasce ainda antes da sociedade, uma instituição confirmada pela lei divina”.
Inclusive, para as famílias que não se inserem no padrão tradicional, permanece, integralmente válido, o ideal de construção de um ambiente familiar impregnado de amor, afeto e ternura, sobretudo, na educação das crianças e adolescentes.
Imitar a Sagrada Família em Nazaré consiste, essencialmente, em tomá-la por modelo de vida, guia, orientação, parâmetro, referencial. A ação de imitar consiste em buscar reproduzir os traços significativos de alguém e de tê-lo como fonte de inspiração. A forma como Rita Amada de Jesus imita a Sagrada Família subsiste como modelo a ser imitado por nós, irmãs e leigos, em nossa missão educativa e evangelizadora.
NAZARÉ, PARA NÓS, CONSTITUI UMA ESCOLA DE ESPIRITUALIDADE E MISSÃO
No tempo de Jesus, ainda que hospitaleira, a cidade de Nazaré não tinha a melhor fama, pois, para os judeus, não era muito bem frequentada e seus habitantes, segundos eles, eram de diversas raças e impuros, pouco fiéis às leis e aos ritos do judaísmo. Isso explica o fato de Jesus ter sido questionado em seu rabinato pelos próprios conterrâneos: “Pode vir um profeta de um povoado tão pequeno e de fama tão duvidosa?”
Quando Jesus retorna a Nazaré para pregar, os próprios habitantes da cidade tentam matá-lo, jogando-o do penhasco, o que leva o Mestre a questionar-se: “Um profeta só não é respeitado em seu próprio país, entre a sua própria gente e em seu próprio lar”. Isso pode justificar o fato de Jesus não ter dispensado muita atenção, nem realizado muitos milagres junto à sua gente. Ele que é reconhecido por todos como filho da terra, pois ali viveu com a sua família até o início do seu ministério, aos 30 anos de idade.
Na era Cristã, Nazaré fica conhecida pelos fatos ligados à vida de Jesus, como a anunciação do anjo a uma virgem local de nome Maria, prometida em casamento a José, com quem ela se desposa. É na pequena Nazaré que pelo “Sim” de Maria ao Seu Deus, Ela concebe Jesus, e o Mistério da Encarnação acontece na história da Humanidade. Ali, a Sagrada Família vive uma das mais importantes experiências humanas, o cotidiano em família. Para lá Eles retornam sempre e é onde Jesus vive oculto até iniciar, publicamente, a sua missão.
Nazaré é, pois, plena de significado histórico e espiritual para os cristãos. São inúmeros os místicos e as comunidades religiosas que, ao longo destes dois milênios, nas diversas denominações cristãs, se alimentam do potencial mistagógico de Nazaré para plasmarem o seu itinerário espiritual. Rita Amada de Jesus e sua família espiritual e religiosa são insigne expressão destes grupos de cristãos e nós, irmãs e leigos, somos partícipes desta particular tradição mística, carismática e apostólica.
A vida oculta de Jesus, por cerca de 30 anos, está relacionada à sua preparação para a missão. Dessa forma, uma visão superficial, fundada unicamente na lógica humana, pode equivocadamente considerar esse período como “tempo perdido” para o Filho de Deus, no qual Ele está apenas “escondido”. A exata e profunda compreensão espiritual dessa etapa de vida oculta em Nazaré, no entanto, pressupõe considerá-la intrinsecamente articulada com a da sua missão pública. Nesse período, Ele escuta e se entrega à Vontade Deus e se deixa interpelar pela vida do povo.
Rita Amada de Jesus, nessa etapa de sua “vida oculta”, também se prepara de forma singular, na teoria e na prática, para o pleno exercício da sua missão. Seu longo período de formação revela-se fecundo em sua atuação futura nos âmbitos espiritual, apostólico, acadêmico, profissional e institucional. Sua experiência mística constitui-se o eixo fundamental do seu processo formativo e leva-a a embrenhar-se pela via da Vida Escondida com Cristo em Deus. Essa dimensão mística-espiritual é aspecto desafiador para a nossa formação nos tempos atuais, no qual impera a tentação do imediatismo que afasta do discernimento e da obediência à Vontade de Deus.
Em nossa Espiritualidade, a Vida Escondida em Deus é o caminho ou via espiritual trilhada por Rita para viver a sua experiência mística e a sua vocação apostólica. Essa via espiritual, por ela na fonte da contemplação da vida oculta da Sagrada Família, em Nazaré, e se reflete, decisivamente, no amago da sua missão, imprimindo-lhe indelével elemento característico. Irmãs e leigos extraímos dessa via espiritual, legada por nossa Fundadora, elementos pedagógicos essenciais para a nossa ação educativa e evangelizadora.
O Deus dos cristãos é um conosco, o Emanuel, o Verbo Encarnado. Ele que é tão grande, Se faz pequeno por amor e, neste Seu “apequenar-Se”, Se faz presente em nosso meio, Se torna um de nós, e nos dá a certeza de que não estamos sós. Na Encarnação, Jesus Se esvazia de Si mesmo para ser um como nós. Nós, analogamente, tornamo-nos um com aqueles de quem partilhamos os sofrimentos, as lutas e as conquistas, e de quem comungamos a vida. Nesse movimento de kenosis reside a essência da vida oculta em Nazaré, escondida em Deus.
Como Jesus, também nós somos chamados a esvaziarmo-nos do que é próprio do “mundo”, do que é relativo e passageiro, morrer para si mesmo, para que Deus seja o Absoluto, o Tudo em nossas vidas. Morrer para si mesmo para com Ele ressuscitar. Assim, mergulhar ao encontro da vida em plenitude que está escondida em Deus. Rita, em contato com o povo e suas necessidades, despertou para esse algo mais em sua vida, ao esvaziar-se de si mesma para ser um com aqueles que sofrem a ignorância, o abandono e a marginalização.
Como Jesus em Nazaré, nossa fundadora assume as dores do povo, caminha junto com ele, sente o seu sofrimento, constata a realidade das famílias, assume suas dores. Daí nasce sua vocação: “Escutei o clamor do meu povo…”. Para isso é preciso possuir um olhar de misericórdia para não julgar e condenar, é preciso ter um coração terno e aberto ao Deus que se revela no outro. Nesse gesto de mergulhar na vida dos outros, de ir ao seu encontro para sentir com eles, reside a verdadeira empatia e se concretiza a trilha espiritual de uma vida escondida em Deus.
Experimentar os sentimentos do outro, sentir como o outro sente, colocar-se “na pele” do outro, configura movimento de empatia e de amor, de esvaziamento de si mesmo para encarnar-se em realidade distinta da sua. Compreender sentimentos, emoções e experimentar, de forma objetiva e racional, o que sente o outro são elementos de nossa espiritualidade. Deus, ao enviar o Filho para se sacrificar por nós, revela a empatia e o amor do Criador por suas criaturas. “Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna”.
A Sagrada Família em Nazaré, modelo para todas as famílias, é a primeira comunidade onde aprendemos virtudes e valores cristãos. Para nós, irmãs e leigos, Nazaré é a verdadeira escola na qual nos inspiramos e nutrimos para viver os valores evangélicos, próprios de nossa Espiritualidade.
Conheça os 12 valores ou virtudes básicas presentes na missão da Rita Amada de Jesus e que são inerentes a missão do Instituto Jesus Maria José.
A simplicidade remete à transparência, à naturalidade, à ausência de dubiedade nas ações e relações interpessoais. É também o atributo de quem é franco, sincero, honesto. A simplicidade transparece na concretude da vida e da missão, ao viver com o que temos e zelar pelo que nos é confiado. Consiste igualmente em partilhar com os outros as nossas qualidades, os nossos saberes e os nossos bens.
A pobreza é a virtude do despojamento e do abandono. Sua vivência liberta-nos de nós mesmos para uma sempre maior abertura aos outros e a Deus. A pobreza é fonte da verdadeira alegria, como nos ensina Jesus nas Bem-Aventuranças. Pobreza na docilidade de espírito que nos faz acolher a Sua Graça Santificante e pobreza no despojamento material que nos faz solidários com os pobres. Somente assim seremos construtores do Reino de Deus que é de paz, justiça e fraternidade.
A pobreza é atitude interior de abandono ao Senhor, confiando-Lhe a própria vida no seu cotidiano, ao acolher os seus insondáveis desígnios para si, mesmos aqueles que contrariam o nosso entendimento e vontade. A pobreza orienta-nos a uma total confiança em Deus. Na Missão vivemo-la pela aceitação ativa da Vontade de Deus, pela entrega total à Sua Providência, pelo desapego de cargos e funções, pela aceitação dos outros como eles são e pela relativização de recursos e bens materiais.
O valor evangélico do acolhimento, a plena eficácia da missão em nossas ações educativas e evangelizadoras requer sempre o real acolhimento do outro. O valor evangélico do acolhimento, em sentido mais profundo, consiste em captar e atingir a essência do outro. É cuidar, é trazer para dentro, é dar proteção. Essa atitude desconhece preconceitos e requer amor sincero. O valor do acolhimento coloca-nos no caminho da conversão que permite ver o outro como Deus mesmo o vê. Esta virtude manifesta-se na maneira como cuidamos e acolhemos quem necessita de nós quem convive conosco.
O valor evangélico da perseverança vincula a missão à prática da fé cristã e tem suas raízes na fidelidade pessoal a Deus. A perseverança é uma característica de quem se entrega a Jesus e o segue, mesmo diante das dificuldades e das tentações; é ser fiel ao seu compromisso batismal e sempre fazer o bem. Perseverar na fé impulsiona a lutar incessantemente pelos valores cristãos, mesmo quando a sociedade já não os preza mais e/ou tem dificuldade em proclamá-los e vivê-los. O valor evangélico da perseverança nos move a atualizar continuamente as expressões da nossa Missão e os meios para logra-lhe a eficácia desejada, inculturando-a sempre que necessário nas diversas realidades e culturas onde atuamos.
O trabalho, ainda que seja uma realidade intrínseca e contingencial à nossa condição humana, para o homem e a mulher de fé assume o status de valor evangélico. Pelo labor cotidiano, somos co-criadores ao completar a obra da Criação e, assim, ganhar o nosso pão e nos santificar. Não há entre trabalhos e tarefas distinção em dignidade, e esta jamais pode ser maculada. Nossa missão educativa e evangelizadora é árdua e exigente. Nela não se logram, sem muito trabalho e esforço, os resultados desejados por nossa ação junto aos nossos destinatários; resultados que transcendem em muito qualquer eventual retorno exclusivamente humano.
Etimologicamente, a palavra humildade vem de terra, “humus”, e seu valor evangélico nos remete a profunda consciência de si mesmo, da realidade pessoal, das suas qualidades e limitações. A humildade nos preserva de uma possível esquizofrenia pessoal e social que conduz à tentação de aparentar o que não somos e não temos, tão comum na atual sociedade de aparência e de consumo. A humildade remete ao essencial de nós mesmos e permite sermos percebidos como realmente somos. Assumimos as responsabilidades confiadas a nós, comprometidos em colocar nossas potencialidades à serviço da missão. Por esse nosso testemunho, evangelizamos e educamos com quem interagimos em nossa ação apostólica.
A verdadeira alegria, além de um sentimento profundamente humano, é uma experiência espiritual. Realidade difícil a ser compreendida em se relacionar com o Transcendente e sem a alegria de experimentar o amor incondicional do Criador. A verdadeira alegria não é circunstancial, nem depende de fatores externos, sejam pessoas ou condições materiais. A alegria como virtude nasce exclusivamente do nosso ser e agir no amor e no serviço ao Senhor e aos irmãos. Sua Santidade, o Papa Francisco, tem insistido sobremaneira sobre a alegria como inerente ao testemunho esperado dos cristãos. Nós, irmãs e leigos, em nossas relações apostólicas testemunhamos esse valor evangélico e por ele somos reconhecidos.
Exercer a virtude da fidelidade em uma sociedade caracterizada pela volatilidade e superficialidade nas relações e nos compromissos leva-nos, irmãs e leigos, a reafirmar nosso compromisso com os valores humanos e cristãos que sustentam a nossa identidade social e eclesial. Para os cristãos, a virtude evangélica da fidelidade consiste em proclamar que o nosso Deus é sempre fiel; da mesma forma nos impele em ser-Lhe sempre fiel, seguros da sua infinita Misericórdia. Como educadores testemunhamos nossa fidelidade ao Senhor e à sua Mensagem de Salvação, desta forma, auxiliamos às novas gerações a aprenderem a ser dóceis à ação do Espírito Santo, e a ser sempre fiéis a Deus, nosso Senhor.
Em Rita Amada de Jesus encontramos modelo autêntico de audácia. A sua vida, nas diversas fases e circunstâncias, apresenta-nos sobejos exemplos dessa virtude evangélica. Com fé e confiança inabaláveis em seu Senhor ela mergulha incondicionalmente em sua Missão; imperativo também para nós engajados no mesmo desafio educativo e evangelizador. A audácia é nota caraterística dos jovens de espírito e dos que creem ilimitadamente em Deus. Esse valor conecta-nos mais facilmente com a natureza das crianças e jovens, destinatários privilegiados da nossa missão, a quem comprometemo-nos a orientar na vida.
Discernir a Vontade de Deus é virtude evangélica intrinsicamente vinculada à fidelidade e à obediência. Discernir é buscar, com o consórcio da moção do Espírito Santo, a Santa Vontade de Deus para a nossa vida… e engajar-se a obedecê-La. Discernir é também identificar e personalizar o Projeto de Deus, em conformidade com o Plano de Salvação para a Humanidade. É aprofundar o sentido da vida, que como humanos buscamos incessantemente; o sentido vocacional, que como cristãos recebemos no batismo; o sentido da missão que herdamos, irmãs e leigos, de Rita Amada de Jesus.
O discernimento espiritual é um dom do Espírito Santo que orienta a pessoa a ordenar seus sentimentos, em determinada situação, a fim de que ela opte segundo o mesmo Espírito. Discernir reside em optar entre duas possibilidades judiciosas que se apresentam e que, por vezes, leva a abdicar de algo bom para sermos fiéis a Deus. É ter a perspicácia, a astúcia e a sagacidade para fazer escolhas acertadas.
Daí nasce a sua inquebrantável fé em que todos os bens espirituais por ela recebidos enraízam-se e frutificam na confiança absoluta em Deus. Tal confiança é a virtude evangélica que marca sua espiritualidade no testemunho que ela oferece a todos no exercício de sua Missão religiosa e apostólica.
A confiança absoluta em Deus assegura-nos que Ele age em nossa vida para além da nossa imediata compreensão, e que tudo em nossa existência é ação da Sua Graça e do Seu Amor por nós. Diante disso abandonamo-nos completamente em Deus, seguros de que Ele age também na vida dos destinatários de nossa Missão. Confiamos que Ele opera em suas vidas para além da nossa ação educativa e evangelizadora. Mais do que efeito do nosso esforço de educadores e apóstolos, os resultados do nosso apostolado produzem-se quando e como a Ele aprouver.