A Humanidade está sujeita aos vendavais do tempo e de cada época com necessidade de se libertar das amarras que a impedem de avançar em sua realização pessoal, religiosa e social.
Neste peregrinar, Deus que nunca abandona o homem, constantemente faz surgir na História Homens e Mulheres dotados de Carismas especiais, tendo em consideração as necessidades e anseios do ser humano.
É neste contexto que se compreende o aparecimento de Profetas, de Carismáticos, tais como, mais concretamente para nós, Rita Amada de Jesus, Fundadora do Instituto Jesus Maria José.
Situação sócio-política e religiosa da época
O mundo cristão encontra-se pressionado por várias ideologias anti-religiosas: o racionalismo, que procura deificar a razão, e o existencialismo e o materialismo ateu, que não dão mais lugar ao transcendente, opondo o Homem ao Ser por excelência, Deus. Aquele é tão fortemente elevado pelas ciências Antropológicas, que Deus deixa de ter cabimento em seu coração. É uma filosofia que tende a elevar o Homem, mas que, no fundo, cada vez mais o subjuga. Há a chamada exploração do Homem sobre o Homem, há opressores e oprimidos.
Em Portugal no fim do Século XIX, a Revolução Francesa produziu os seus efeitos, através de uma crescente descristianização. Com a disseminação ideológica, os valores morais são postos em causa.
A cultura continua apenas nos grandes centros urbanos, enquanto o povo humilde e rural continua analfabeto, sem possibilidade de acesso às escolas. Paralelamente ao analfabetismo, existe a ignorância religiosa. A corrida aos Santos, típica da Idade Média, é nota predominante do povo. Enquanto o Homem do saber se deixa conduzir pela razão, o Homem humilde é atraído para o maravilhoso, sem capacidade suficiente para discernir o que é divino do que é natural ou mitológico . Há, portanto, na sociedade, um dualismo que parece criar uma rutura com o Criador.
É neste ambiente de conjunturas ideológicas e anticristãs que surge Rita Lopes de Almeida, como que contestando o sistema sócio-político e ideológico da época, e valorizando os princípios cristãos que essas mesmas ideologias tentavam derrubar.
Foi no lugar de Casalmendinho, freguesia de Ribafeita, Viseu, que a 5 de março de 1848 nasceu, de família honesta e cristã, Rita Lopes de Almeida, batizada, poucos dias depois, a 13 de março, na Igreja Paroquial de Ribafeita.
Desde criança toda a sua vida decorreu sob a ação do espírito Santo . Quem ler a biografia que ela escreveu por amor a Deus e por obediência, fica profundamente impressionado com a simplicidade, a confiança, a tenacidade, o espírito de fé e a coragem desta alma de eleição.
Abriu-se ao Sopro do Espírito com audácia. Do Espírito que sopra onde quer. Esqueceu-se de si, para realizar a sua vocação, a sua obra, a sua missão.
Espírito Missionário
É preciso pôr de parte o pensamento de que para missionar é preciso ir para o deserto. Rita começa a mostrar zelo pela salvação dos que se encontram afastados de Deus, percorre as aldeias e freguesias fazendo oração com o povo, rezando o terço e ensinando o catecismo, tendo como seus Patronos Jesus, Maria e José, a quem imitava.
Fundação da Congregação Jesus Maria José - 1880 primeira fundação
Alimentando, desde a infância, a ideia de fundar uma Congregação, esta ideia a dominou, constituindo o seu grande sonho, a sua grande paixão. A sua vida e a sua obra constituem a realização desse sonho: Levar o Evangelho da conversão a todos os homens, educar e acolher as crianças e os jovens mais carenciados, e a evangelizar as famílias.
Respondendo a este ideal, busca caminhos e vai-se certificando de que é essa a vontade de Deus. Começa, então, a sua peregrinação ou caminhada de fundadora até instituir o primeiro colégio e, depois, sem nunca parar ou desanimar, até à morte, ocorrida a 6 de janeiro de 1913.
Passos de busca para certificar-se da vontade de Deus!
Entrou nas Irmãs da Caridade, no Porto, onde esteve algum tempo. Não era esse o lugar a que Deus a chamara. Saiu. Após esta experiência, o confessor a quem recorreu disse-lhe, finalmente, que o pensamento de fundar uma obra “era obra de Deus, por isso, que tratasse já dessa Fundação.” Foi uma hora de alegria para Rita, que começa a ver abertos os caminhos para realizar o seu sonho.
Angariando donativos, conseguidas ajudas, vencidas não poucas dificuldades, motivando outras jovens a agregar-se a ela, surgiu o primeiro Colégio em Gumiei, Ribafeita, frequentado por umas cinquentas meninas entre internas e externas, as mais desprotegidas da região. Estava, pois, lançada a obra. Com a bênção de Deus, começara a realizar-se a grande paixão de Rita Amada de Jesus.
Dois anos depois, em 1882, abre novo Colégio em Fareginhas, Castro Daire.
A obra estendeu-se de seguida à Diocese da Guarda, onde foi instalado o primeiro noviciado , a primeira casa de formação da Congregação, em Louriçal do Campo, próximo do Colégio de São Fiel, orientado pelos Jesuítas. A Obra ia-se expandindo em novos lugares e crescendo em número de membros.
A 10 de maio de 1902 foi aprovada canonicamente a Congregação pelo Santo Padre Leão XIII. Foi esta uma hora alta de alegria para a Fundadora e suas Irmãs.
A Igreja confirmava a sua Obra, reconhecendo a sua ação benemérita e de evangelização.
Neste empreendimento, Rita Amada de Jesus foi coadjuvada pelo P.e José Udalrico da Lapa, da Companhia de Jesus, que durante muitos anos tomou a seu cuidado a direção espiritual da nascente Congregação.
Mas os ventos adversos não demoraram. Oito anos mais tarde, com o advento da República Portuguesa, o sopro da perseguição pairou sobre as Congregações Religiosas. As Irmãs, dispersas, recorreram a casas particulares e de família, sofrendo as inclemências e injustiças da perseguição. Exilada, Madre Rita Amada de Jesus não cruzou os braços, nem se lhe apagou a luz da esperança em seu coração: “ Neste tempo de tanta tribulação, nossa Fundadora conservou-se sempre corajosa e manteve inalterável a sua confiança em Deus” ( PE 235).
“Jesus Maria José recompensaram de modo admirável esta grande confiança, pois conseguiu, em pouco tempo, colocação para as suas religiosas, no Brasil” (PE) 236). A Rev.ma Madre recorreu ao Senhor Cônego Manuel Damasceno (pouco depois Bispo de Angra do Heroísmo – Açores), que escreveu a um colega no Brasil, recebendo deste resposta positiva: “Tratou logo de prevenir e preparar as primeiras Irmãs que foram para o Brasil” (PE 239).
A 31 de outubro de 1912, a Madre Fundadora sentiu a consolação de poder enviar um primeiro grupo de Irmãs, que foram estabelecer-se no Estado de S. Paulo (Igarapava). Depois, mais outro grupo. E ainda mais tarde um terceiro grupo. E outros partiram após a morte da Fundadora.
Cumprida a sua Missão na terra, Madre Rita Amada de Jesus faleceu a 6 de janeiro de 1913, em Ribafeita, Viseu, Portugal. Apagou-se uma luz, mas outra mais fulgente começou a brilhar no Céu! Agora é nossa intercessora junto a Jesus Maria e José, a quem sempre imitou na terra, legando-nos como testamento esta escola de espiritualidade.
Herdamos, a cultura, o trabalho e a tenacidade destas incansáveis e féis obreiras da messe do Senhor. A memória é indispensável, ela nos impulsiona para o além, fazendo acontecer a missão que nos foi confiada.
Demos graças a Deus pelo caminho percorrido. Vivamos o hoje, projetando o Futuro com “Audácia, Comunhão e Esperança”
“Ide minhas filhas sede fieis a Deus e Ele será convosco”.
Com a Morte da Fundadora, as Irmãs assumiram o Governo do Instituto Jesus Maria José. Reorganizaram-no jurídica e canonicamente, constituindo o Governo Geral com sede no Brasil.
Irmã Maria de Lurdes Lopes Filipe
Vigária Geral